Ao contrário do que possa
parecer, os cursos tecnológicos em nada se assemelham aos cursos técnicos. Por
lei, o estudo é de nível superior e em 3 anos promete formar especialistas de
diversas áreas. Atualmente, esse tipo de ensino é o que mais cresce no país,
provando já ser uma tendência nacional de formação.
De acordo com dados divulgados
pelo Censo Superior de Educação 2009, o aumento de matrículas para esse tipo de
graduação foi de 26,1% comparado ao ano de 2008, que contava com 539 mil
matrículas. Além disso, desde 2001, os cursos tecnológicos têm conquistado um
espaço antes dominado pelo bacharelado. De 69 mil matriculados para formação de
tecnólogo, no ano de 2001, os números aumentaram para os atuais 680 mil,
representando um aumento de 985%. Em contrapartida, no mesmo período o aumento
foi de 186% para estudantes de bacharelado.
Para o secretário de Educação
Profissional e Tecnológica do MEC, Eliezer Pacheco, a procura por cursos
tecnológicos de nível superior não é somente uma tendência nacional, mas acima
de tudo uma necessidade do mercado de trabalho. "O rápido desenvolvimento
do Brasil exige profissionais com formação mais focada e, acima de tudo,
rápida. Não se pode mais esperar de 5 a 6 anos para um estudante se formar na
faculdade", disse.
Pacheco afirmou ainda que os
tecnólogos não são menos preparados que os bacharéis, e sim mais focados.
"Um aluno que faz bacharelado em Engenharia Civil, por exemplo, passa 4
anos estudando teorias e áreas da ciência que ele não vai usar na profissão. Já
o tecnólogo, com formação em construção de estrada, passa 3 anos com o estudo
focado somente nisso. Ao ir para o mercado de trabalho nessa área, o tecnólogo
vai acabar tendo um conhecimento muito mais aprofundando na construção de
pontes que o engenheiro civil".
Nícollas Silva, 20 anos,
completou o Ensino Médio em 2008 e iniciou o curso de Ciência da Computação na
Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec). "Gosto do ensino pelo foco e
pela boa qualidade das aulas. Mas admito que agora estou em dúvida entre o
curso e o bacharelado. Meu maior medo é me formar tecnólogo e depois decidir
que é preciso fazer faculdade, pela possível não aceitação no mercado. Eu
chegaria aos 29 anos sem ter alcançado minhas metas", disse.
Fabiano Caxito, professor
especialista em tecnologia, afirmou que os anseios de Nícollas fazem sentido,
pois não são todos os nichos que aceitam bem os tecnólogos. Para se aprofundar
mais no tema, o professor realizou uma pesquisa em 350 empresas de São Paulo
para investigar a aceitação dos cursos no mercado de trabalho. Segundo
constatou, 48,73% das empresas aceitam o tecnólogo da mesma forma que o
bacharel, 11,83% não aceitam e 38,87% dizem depender. Esse "depende",
como observou o especialista, pode estar ligado a dois fatores: experiência
profissional do candidato, que chega a aumentar 72,1% de aceitação; e
pós-graduação no currículo, que sobe para 64,5% de aprovação por parte dos
empregadores.
Apesar das estatísticas
favoráveis, Caxito salientou que ainda não se pode afirmar que os cursos
tecnológicos são plenamente aceitos. "Em algumas áreas, como a de gestão,
os conselhos profissionais - em especial o de Administração - limitam a atuação
do tecnólogo. Na área de engenharia e arquitetura, os conselhos reconhecem o
tecnólogo e definem as atividades que podem ser exercidas. Já em tecnologia da
informação, hotelaria, turismo e culinária os formandos são plenamente
reconhecidos e até disputados pelo mercado de trabalho. O mesmo acontece com os
cursos voltados à indústria e a produção".
Caxito acredita que com o aumento
anual do número de matrículas em cursos tecnológicos, o mercado vai precisar se
adaptar cada vez mais a nova tendência de formação profissional.
"Gradativamente, com a elevação do número de formados e com um maior
conhecimento do real significado dos cursos tecnológicos, as áreas
profissionais vão aceitando mais facilmente. Em geral, empresas que buscam
competências específicas são mais abertas aos graduados nesses cursos", disse.
Especial para Terra
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