Segundo a imprensa
especializada em concursos públicos brasileiros, no momento, há inscrições
abertas para cerca de 30 concursos e, apenas em 2013, 80 mil vagas serão
disputadas por não menos do que 12 milhões de brasileiros. Diante de números
tão vultosos e expressivos, surge a pergunta: que motivo atrai tantas pessoas
para estes concursos?
No
depoimento de alguns “concurseiros” – nome dado às pessoas que fazem dos
concursos e, consequentemente, dos cargos públicos uma estratégia de ascensão
social – o que mais atrai é a estabilidade, que tem aspectos que são realmente
verdadeiros como por exemplo:
- Estabilidade de emprego: uma vez que ainda existem leis que garantem que
um funcionário público não possa ser demitido pela simples vontade de seu
chefe, como ocorre na iniciativa privada;
- Estabilidade de benefícios: os chamados “auxílios”, tais como, creche,
alimentação, transporte, entre outros. Enfim, uma série de penduricalhos
adicionados ao salário do funcionalismo público;
- Estabilidade de renda após a aposentadoria: em
muitas esferas da administração pública, bem como em muitas autarquias, existem
fundos de previdência que se propõem a complementar a renda, assim como os de
previdências privadas. Aqui vale ressaltar que houve mudanças nas leis que
garantiam que o tesouro público arcasse com essa complementação, portanto,
aqueles que são atualmente empossados já não gozam na aposentadoria de salários
iguais aos do tempo da ativa.
Há
também, no inconsciente coletivo da população, a ideia de certo status por
trabalhar no funcionalismo público. Contudo, analisando friamente, não é possível
concluir que esta seja realmente uma boa estratégia de ascensão social. E aqui
apresento os fatos.
Pessoas
que prestam concursos e que realmente têm chances de classificação precisam de
dedicação quase exclusiva e uma série de artimanhas para a tão sonhada
aprovação. São pelo menos entre 30 e 40 horas de estudo semanais e alguns
chegam a estudar até 18 horas por dia. Além disso, a preparação acontece antes
mesmo do edital ser publicado e muitos recorrem aos cursinhos e estudam por
meses ou até anos. Tudo para atingir o objetivo.
Trabalhando
há 4 anos como consultor de resultados, posso afirmar que o empenho e dedicação
destas pessoas podem ser comparados a alguns comportamentos de empreendedores
de sucesso, como por exemplo:
- Planejamento: para organizar a forma de estudar;
- Persistência: para não desistir diante do primeiro fracasso;
- Resiliência: para não se abater diante dos concursos nos quais não
foi aprovado;
- Humildade: para não achar que pode passar em todo e qualquer
concurso;
- Senso de julgamento apurado: para
não dar ouvidos a histórias de sucesso imediato, ao mesmo tempo não estudar
demasiadamente, sem respeitar horas de descanso, sono e algum lazer;
- Equilíbrio emocional: para
não exigir de si mesmo, além das suas possibilidades;
- Autoconfiança: para assumir atitude positiva e vitoriosa;
- Calcular riscos: para estudar com antecedência e não apenas quando o
edital é publicado;
- Disciplina e comprometimento: para
criar uma rotina de estudo sistemática e abrir mão da vida social, lazer e
outros regalos da vida;
- Busca de informações: para
saber o que tem caído nos concursos que estão ocorrendo;
- Responsabilidade financeira: para
calcular se a renda atual é suficiente pra subsidiar todo esse tempo de estudo
e ainda se o salário almejado no serviço público será capaz de financiar os
sonhos. Será
que estes concurseiros, com todos os comportamentos empreendedores, trabalhando
para si mesmos, não ganhariam muito mais do que R$ 21 mil e poderiam ter um
futuro com muito mais estabilidade e liberdade?
Pessoas
que apresentam essas características de comportamento são, na verdade,
empreendedores, cujo céu é o limite para suas perspectivas, com rendimentos que
podem ser ilimitados.
O lado
nefasto da estabilidade do serviço público é a letargia que a falta de
perspectiva de crescimento profissional produz, de forma que, com toda certeza,
nas fileiras do funcionalismo público existem profissionais que seriam
brilhantes se tivessem no mundo privado, trabalhando e gerando riqueza pra si
mesmo e para seus sucessores.
Mas,
para isto, há de se tirar a cabeça do meio dos livros e apostilas pra
questionar se realmente todo esse esforço e investimento de tempo não seriam
melhor aproveitados em outras áreas de desenvolvimento profissional.
0 comentários:
Postar um comentário